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Link: https://www.eenet.org.uk/enabling-education-review/enabling-education-3/newsletter-3-portugues-translation/cultura-e-desenvolvimento-uma-perspectiva-vinda-do-afeganistao/

Cultura e desenvolvimento: uma perspectiva vinda do Afeganistão

Mudar as atitudes face à deficiência pode ser um passo importante no caminho para uma compreensão mais profunda dos processos globais de desenvolvimento. As questões apresentadas aqui são lições aprendidas a partir do programa “Comprehensive Disabled Afghan Prgramme’s (CDAP) Community Based Rehabilitation” que trabalha com as comunidades Pushtun. O artigo reflecte a opinião do autor e os pontos de vista dos colegas Afegãos.

O CDAP teve início em 1995, em resposta às necessidades das pessoas com deficiência no Afeganistão, onde teve lugar uma guerra que durou duas décadas. O programa evoluiu para uma iniciativa de RBC nacional, actuando em treze províncias do país, empregando um orientador estrangeiro, 400 elementos remunerados (homens e mulheres) e várias centenas de voluntários, todos do Afeganistão. Cada trabalhador da RBC cobre uma população de 15-30.000 e viaja longas distâncias num clima muito difícil e em estradas quase inexistentes. O CDAP trabalha anualmente com cerca de 25.000 pessoas com deficiência.

Para os estrangeiros as questões de cultura, etnicidade e religião podem parecer obstáculos ao desenvolvimento. Muitas vezes, os obstáculos vêm das atitudes dos estrangeiros face aos valores das comunidades com que trabalham. Por exemplo, as relações entre os sexos na sociedade Muçulmana constitui uma matéria em que se verificam os choques mas óbvios com os valores “estrangeiros”. é normal que o Ocidente considere a cultura Afegã como opressiva para as mulheres. Em particular, o véu é considerado como um símbolo da opressão, mais do que um aspecto essencial da identidade pública duma mulher Pushtun. Do mesmo modo, a não participação das mulheres em trabalhos no domínio público é vista como sinal de respeito, não opressiva. Para além disso protege-os de situações embaraçosas. Mas, a maior parte os homens Afegãos consideram isto como sinal de respeito em relação às mulheres. As mulheres Pushtun não aceitam que ser uma mulher seja, em si próprio, uma “deficiência”. Estas questões não são aplicáveis em todo o Afeganistão, sendo, portanto, difícil dizer que a situação das mulheres e a cultura sejam idênticas em todo o país. Por exemplo, na região Norte do Uzbec, na cidade de Mazar, as mulheres frequentam classes mistas na Universidade, com fatos ocidentais e sem terem o véu. Aqui não há lugar para generalizações.

“O desenvolvimento está estreitamente ligado à ideia de reforço do poder, o que significa acreditar no nosso próprio valor e na auto-confiança e auto-estima que daí derivam.”

O desenvolvimento diz respeito a um processo de mudança que deve partir da pessoa ou do grupo que é objecto do desenvolvimento. Ninguém pode desenvolver outra pessoa, embora outros possam criar um clima favorável, ou desfavorável, ao nosso desenvolvimento. Podemo-nos ajudar ou prejudicar mutuamente no nosso desenvolvimento, através das atitudes que tivermos uns com os outros.

As diferenças linguísticas podem ser a causa de incompreensões culturais. Por exemplo, num seminário da CDAP sobre valores culturais, a expressão “reforçar o poder” foi considerada como inapropriada pelos Afegãos.

Foi rejeitada por todos os participantes pelo facto de “poder” em Afegão significar poder sobre outra pessoa. Não é considerada como relação vencedor-a-venceder mas como relação vencedor-a-vencido.

Só podemos reforçar o nosso poder à custa do outro. O grupo, em vez desta expressão sugeriu “capacitação”, subscrevendo, sem intenção, o título do EENET.

No programa do CDAP a equipa aprendeu que um processo de desenvolvimento tem de estar empenhado na mudança das atitudes, não na mudança da cultura. A dificuldade reside no facto de que o ambiente cultural de cada pessoa condiciona a sua compreensão. Mudar atitudes não é algo que as maioria das pessoas faça instantaneamente. Consequentemente, é necessário que exista um detonador exterior. é irrealista e errado pretender que

o desenvolvimento seja uma criação espontânea de sociedades auto-suficientes sem qualquer influência externa. Todos nós precisamos de estímulos externos para nos ajudar a crescer e desenvolver. Idealmente, uma pessoa que trabalhe no seu contexto cultural está numa melhor posição para desafiar as atitudes do que uma pessoa estranha.

“Mudar atitudes não é algo que a maior parte dos humanos faãa instantaneamente – é necessário um detonador externo.