Educação Básica Alternativa Para Karamoja (ABEK) – Uganda
Margarita Focas Licht
Lokiru é um rapazinho de 12 anos que vive em Karamoja. Uma vez que é o único rapaz na família, é responsável por apascentar as cabras. Isto significa que Lukiro nunca teve possibilidade de ir à escola da sua aldeia. Em cooperação com o Ministro de Estado para os assuntos de Karamoja, as autoridades locais de educação em colaboração com a organização Save the Children da Noruega, as pessoas desta área iniciaram o desenvolvimento duma educação alternativa para as suas crianças. Assim nasceu a ABEK.
Karamija é um região árida e remota do nordeste do Uganda povoada pelos Karamajong. A sobrevivência dos Karamajong depende do gado. A criação de rebanhos proporciona um fonte de incerta de alimentos neste ambiente seco e hostil. Por esta razão são semi-nómadas e, durante a estação seca, os membros da família movem-se com os animais para encontrarem melhores pastagens.
Até agora, o estilo de vida dos Karimojong tem dado muito pouco espaço à literacia. Calcula-se que somente 11,5% da população seja alfabetizada e a maior parte nunca teve oportunidade de ir à escola.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os colonos Britânicos vieram a Karimoja recrutar jovens para a guerra. Com uma caneta escreviam os nomes dos homens. Muitos deles nunca voltaram. Como resultado disto, a caneta foi amaldiçoada e enterrada simbolicamente. No entanto, os Karimojong reconhecem a necessidade da alfabetização. Numa cerimónia simbólica em 1955, levantaram a maldição que os seus avós tinham aplicado à caneta.
Num país cheio de salas de aula sobrelotadas, as de Karamoja podem considerar-se quase vazias. Considerando a escolarização formal irrelevante para o seu estilo de vida, a maior parte dos pais não estão motivados para mandar os seus filhos à escola. As tarefas domésticas entregues às crianças são essenciais para a sobrevivência da família, mas são incompatíveis com a frequência escolar.
As escolas têm sido orientadas para uma aprendizagem formal, destinada a crianças que aspirem a uma vida urbana e a uma saída da sua sociedade tradicional.
OS Karamajong vêem a ABEK como sendo da sua própria iniciativa, e as comunidades que nela participam são a força vital deste projecto.
Foram seleccionados facilitadores de entre as comunidades e foram treinados a ensinar aos pares. Foram seleccionada dez áreas de aprendizagem, incluindo: ………..criação de rebanhos, paz e segurança, saúde humana e outros assuntos relevantes. A aprendizagem básica da leitura, da escrita e da aritmética estão integradas nestas áreas de aprendizagem, num contexto que é familiar para as crianças. Os facilitadores orientam as lições debaixo das árvores de manhã, muito cedo, antes de começar o dia de trabalho e à tarde quando o dia de trabalho acaba. As raparigas trazem os irmãos mais novos que estão à sua guarda e os rapazes podem aprender a ler e a escrever ao mesmo tempo que vigiam os seus rebanhos de cabras que pastam ali perto. Os pais e as pessoas mais velhas também vêm assistir às lições para acompanhar os progressos das crianças e aprendem também alguma coisa. O ensino é feito na sua própria língua e os métodos são activos e incluem canções e danças tradicionais.
Os mais velhos também intervêm como facilitadores em relação a assuntos específicos tais como a história indígena e o conhecimento de estratégias de sobrevivência na sua comunidade.
O serviço local de educação representa um papel fundamental no sucesso da ABEK. é responsável por administrar quer a ABEK, quer o sistema formal de educação e de garantir um laço estreito entre ambos os sistemas. Os elementos deste serviço também desenvolvem acções no sentido de garantir que as crianças com deficiência tenham acesso ao ABEK. Algumas crianças deficientes estão a frequentar as lições e a acompanhá-las de forma activa.
As crianças que começam a sua educação a partir da ABEK, se quiserem, podem ser transferidas para o sistema formal. Uma vez que as classes ABEK começaram em meados de 1998, mais de 100 crianças já foram transferidas. Os responsáveis pelo serviço local de educação estão certos que os métodos de ensino usados pala ABEK são eficazes e que as crianças estão a aprender a ler e a escrever com muito mais rapidez na ABEK do que as crianças das escolas formais. Assim, estão empenhados em aplicar os métodos usados na ABEK às escolas formais.
Quando as irmãs teenagers Lukisa e Lukulo foram interrogadas sobre o que faziam no seu tempo livre, responderam: “ABEK!”
Explicaram que na ABEK podem aprender a ler e escrever sem prejudicarem as suas tarefas. Pelo contrário, os seus conhecimentos recentes de leitura e escrita ajudam-nas a realizar melhor as suas obrigações: podem ler as instruções dos frascos de remédio e fazer uma lista das pessoas da aldeia que lhes compram remédios a crédito! A ABEK está ainda na sua fase piloto, com cerca de 7000 crianças inscritas. Há ainda muito trabalho árduo pela frente para garantir a sustentabilidade e o crescimento do programa. Mas o seu sucesso excedeu todas as expectativas e pode ser medido pelo entusiasmo das próprias crianças.
Margartita Focas Licht é a Coordenadora Regional do “Save the Children” da Noruega para a áfrica Central e áfrica do Nordeste.
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