Preparar As Comnidades Para A Inclusão O Papel Dos Activistas Deficientes Na índia
B. Venkatesh
A “Action on Disability and Development (ADD) da índia treinou, desde 1987, cerca de 150 pessoas com deficiência para serem intervenientes activos na mudança social nas áreas rurais de Tamil Nadu e Kamataka, no Sul da índia. Deste modo, mais de 5.000 pessoas com deficiência organizaram-se em 380 grupos de auto-ajuda. Muitos destes grupos estão empenhados em resolver questões que se colocam às aldeias tais como a água potável, a habitação e a terra. A sua preocupação não se limita às suas necessidades específicas, relacionadas com a sua deficiência, mas abarca os problemas da água, da habitação, das estradas ou os problemas das eleições nas suas comunidades, ocupando posições de poder. Sabem reconhecer os efeitos negativos das condições de pobreza e as relações que se estabelecem entre pobreza e deficiência.
Recentemente, com o incentivo da ONG intitulada “Mobility India”, iniciou-se um novo projecto nos bairros degradados de Bangladore. Este projecto partiu do treino das pessoas com deficiência como activistas nas zonas rurais. é apoiado pela UNESCAP, uma agência das NU que trabalha na área da deficiência. Têm desenvolvido documentos orientadores para o treino de pessoas deficientes, de modo a capacitá-las como formadoras capazes de “promover ambientes não incapacitantes”. Têm sido implementados projectos piloto na Malásia, Tailândia e Bangalore, na índia.
Um conjunto de 150 pessoas estão a ser treinadas para trabalhar como agentes de mudança e como elementos capazes de responder às necessidades educativas das crianças deficientes. De entre os que estão a ser formados contam-se catorze alunos com deficiência, sete rapazes e sete raparigas, pertencentes à comunidade do bairro referido. Os alunos começaram por realizar um estudo da situação. Identificaram os principais chefes da comunidade; os mais velhos, os professores, os médicos privados, o elemento de ligação da autoridade local e o carteiro. Frequentaram igrejas, templos, locais de fornecimento de água, curandeiros locais e reuniões de mulheres. Passaram bastante tempo a ouvir e a recolher informações valiosas que lhes deram uma visão sobre a forma como os membros da comunidade interagem uns com os outros. Como parte integrante deste processo, foram apresentados a famílias com crianças deficientes.
Não levantaram nenhumas expectativas. Começaram, simplesmente, por dizer que gostariam de aprender como vivem os pobres e os deficientes nestas comunidades. Depois de terem alguns conhecimentos, iriam ver o que poderiam fazer. Não fizeram nenhumas promessas.
No âmbito do seu processo de investigação, os estudantes identificaram um conjunto de barreiras ao desenvolvimento da inclusão. A primeira barreira consistia na dificuldade que encontravam em ser aceites pela comunidade, quer como pessoas com deficiência, quer como elementos de apoio para a comunidade. As atitudes relativas a falta de aceitação constituíram uma barreira muito mais forte do que, por exemplo, a falta de canalizações, o que se revelou relativamente fácil de encarar.
Os estudantes ultrapassaram esta barreira dando informações necessárias, úteis e fáceis de utilizar, sobre problemas comuns de saúde, tal como a sarna. A comunidade precisava de ter uma informação de saúde pública sobre a sarna, a TB e a febre tifóide e acabaram por considerar os estudantes como um apoio valioso. As informações sobre as questões relacionadas com as deficiências foram partilhadas como parte do trabalho de campo dos estudantes nas comunidades.
A segunda fase do projecto consistiu em levar as famílias que tinham filhos deficientes a aceitá-los. Verificou-se que, antes do projecto começar, muitas crianças raramente tinham saído de casa. Muitas tinham sido privadas de amigos e de brincadeiras. Os estudantes encorajaram-nas a vir para a rua e a brincar. As crianças não deficientes ficavam muito curiosas quando encontraram pela primeira vez uma criança deficiente, mas depressa começaram a brincar com ela. Os estudantes iniciaram grupos de actividades recreativas em que incluiriam os jogos locais, tais como os berlindes, os jogos de bola e o lançar de papagaios. Organizaram pic-nics em parques locais e sessões artísticas. Estes eventos proporcionaram uma base para as crianças com e sem deficiência e os seus pais conviverem e prepararem o caminho para a aceitação e a inclusão.
“A familiaridade gera as sementes da inclusão”
A fase final do projecto será encorajar os professores a incluir as crianças deficientes nas suas classes. A inclusão na família e na comunidade é um factor essencial para o sucesso da educação inclusiva.
O Sr. B. Venkatesh, conhecido pela maioria das pessoas como Venky, é um consultor independente e um Formador nas questões da Deficiência e do Desenvolvimento. Venky é cego e “representa” as pessoas deficientes do Sul, no grupo coordenador do EENET. Pode ser contactado em:
197/27 Ramgopal Layout, Subbiana Palya
Banaswadi, Bangalore 560043, índia
Fax: 91 80 528 8098
Email: admin@venky.ilban.ernet.in
“A pobreza será sempre a questão principal quando a maioria das pessoas recebe uma média de 1-2 $ por dia.
“Este artigo foi elaborado a partir duma comunicação apresentada pelo Sr. Venkatesh num Seminário em Oslo, em Maio de 1999. Este Seminário teve lugar na ocasião em que se realizou a reunião do grupo coordenador do EENET.