Ultrapassando As Barreiras Resultantes Da Falta De Recursos
– Um Simpósio Do EENET No ISEC
Um simpósio numa conferência académica consiste habitualmente numa série de apresentações formais com uma discussão em plenário orientada por um moderador nomeado para tal. Fizeram-se muitos esforços para tornar o ISEC uma experiência mais inclusiva e, portanto, decidimos utilizar métodos participativos de modo a garantir que o simpósio fosse vivo, claro e acessível. O conteúdo foi preparado de forma cooperativa por um pequeno grupo de participantes que se encontraram pela primeira vez no Seminário pré-Congresso sobre as competências de apresentação de comunicações. Foi um processo organizado à última hora mas que resultou numa actividade extremamente dinâmica e inclusiva. Utilizando o role-play, realçámos a maneira como têm sido ultrapassadas as dificuldades causadas pela limitação dos recursos no Uganda, no Nepal e na Zâmbia.
“O sul não tem maiores problemas; tem simplesmente, necessidades diferentes.”
Indumathi Rao
O PLANEAMENTO
As desculpas para não introduzirmos práticas mais inclusivas na educação são-nos extremamente familiares. Enquanto grupo de planeamento, começámos por realizar um brainstorm que nos ajudasse a compreender e analisar as barreiras.
Seguidamente, dividimos as desculpas em 3 categorias: pessoal, dinheiro, recursos materiais e informação. Percebemos que a maioria das desculpas ou barreiras, independentemente dos recursos, entravam na categoria “pessoal”, uma vez que diziam respeito a atitudes negativas.
Decidimos começar o simpósio com o brainstorm. Isto permitiu que os participantes arejassem os seus pontos de vista sobre as barreiras relativas aos recursos e proposemos-lhes uma actividade que consistiu em escreverem as suas barreiras em pedaços de papel A4. Construíram um muro com as suas barreiras, em resposta à questão “Quais são as barreiras que enfrenta a inclusão para todos”? Isto proporcionou à sessão um apoio visual imediato. Demonstrou, igualmente, que as barreiras originadas pelas atitudes eram maiores do que as originadas pela falta de recursos.
ROLE PLAY
Noventa minutos é um tempo longo demais para os participantes estarem sentados a ouvir. A fim de tornar a sessão mais viva, usámos o role-play. Cada participante nesta actividade pode falar da sua própria experiência em relação à forma como tem ultrapassado barreiras que pareciam insuperáveis.
Foi pedido aos participantes que considerassem o seguinte diálogo, enquanto observavam o role-play:
“Não temos recursos para a inclusão!” “Desculpe-me, mas você tem uma ideia fixa sobre inclusão o que lhe dá uma ideia fixa sobre recursos…Se tiver uma ideia flexível sobre a inclusão pode ter uma atitude mais flexível sobre os recursos!”
Não podemos ter uma E.I porque: |
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Atitudes negativas levam as pessoas a dizer:
“Não temos…por isso não podemos fazer…”
Isto é especialmente verdade nos países mais ricos do Norte onde o ênfase é mais no “ter” do que no “ser”.
No entanto contrariamos isto dizendo:
“Somos…portanto fazemos”.
O meu nome é Deepa Jain. Sou coordenador dum programa inclusivo em Nova Deli, na índia. Gostaria de lhes colocar algumas questões sobre inclusão.
Em primeiro lugar, como posso educar uma criança se não recebi nenhum treino para o fazer?
O meu nome é Palesa Mphohle e venho do Lesoto. Sou mãe duma criança com deficiência mental e sou coordenadora do Lesotho Society of Mentally Handicapped Persons (LSMHP) que é uma organização nacional de apoio, fundada em 1992.
Eu também não tinha nenhuma preparação especial para ser mãe duma criança deficiente, mas o facto de a ter criado e o facto de ter trocado experiências com outros pais fez com que tivesse adquirido um grande conhecimento sobre ela. Posso ajudá-los a ensinar a meu filho. No Lesoto os pais colaboram com o programa de educação inclusiva do Ministério da Educação. A aprendizagem feita a partir da resolução de problemas, baseada na escola, é melhor que qualquer treino “especial”.
Deepa: Porque é que não envia o seu filho para uma escola especial?
Palesa: O acesso de todas as crianças à educação constitui um direito humano fundamental. O meu filho nasceu na nossa comunidade com os seus irmãos e irmãs e deve-lhe ser permitido ir, com eles, à escola da sua área. Não são as crianças que descriminam. No Lesoto descobrimos que as crianças não deficientes também beneficiam pelo facto de terem colegas deficientes na sua escola. Aprendem que somos todos diferentes e que devemos ajudar-nos uns aos outros. Estas crianças serão um dia os nossos dirigentes. Como poderão implementar políticas de inclusão se não tiverem nenhuma experiência dessa inclusão nas suas vidas?
O meu nome é John Ndiraba Kiyaga e sou do Uganda. Sou director do Action to Positive Change on People with Disabilities (APCPD) e orientamos uma pequena escola nos arredores de Kampala.
Quando eu era criança a minha mãe queria que eu fosse para uma escola especial, longe da minha casa, porque achava que aí podia ter uma educação melhor. Eu não quis ir e convenci-a a ir para a escola local. Trabalhei muito e consegui as melhores notas em todas as disciplinas. Todos me conhecem na minha comunidade e respeitam-me por aquilo que eu sou.
Deepa: Penso que precisamos de construir uma pequena unidade junto da escola local
O meu nome é Paul Mumba. Sou professor na Zâmbia. Segundo a minha experiência, construir uma unidade especial é ainda um factor de segregação porque isso pressupõe que as crianças aprendam de forma separada. Quando a nossa unidade abriu, mandaram-nos um professor especial que nos disse que só estava autorizado a ensinar 5 crianças com dificuldades de aprendizagem! As crianças chama-lhe o “Professor dos Malucos”.
Deepa: Está bem, concordamos com a inclusão , mas eu tenho 100 alunos na minha classe. As crianças com deficiência não conseguem acompanhar e eu não tenho recursos. O que posso fazer?
Palesa: Quando os professoras se queixam do tamanho das suas classes, eu digo-lhes que devem encontrar formas de reduzir o tamanho sem excluir o meu filho. Que diferença fará ter um aluno menos? Porque razão terá de ser o meu filho a sair se a classe é grande demais? Este problema é da escola e não do meu filho.
O meu nome é Krishna Lamichanne e sou do Nepal. Trabalho como membro da reabilitação de base comunitária numa zona rural longe da capital. Percebemos que o que temos a fazer quando um aluno deficiente tem um problema é organizar uma reunião com toda a gente. Convidamos a criança, os pais e os professores a discutir o problema e, em conjunto, tentamos encontrar formas de o ultrapassar.
Deepa: Mas não temos, certamente, todas as respostas nas nossas comunidades.
Palesa: Existem muitos documentos internacionais que nos podem ajudar nas nossas comunidades: a Convenção dos Direitos da Criança, as Normas das Nações Unidas e a Declaração de Salamanca. Precisamos de conhecer estes documentos porque constituem instrumentos valiosos de sensibilização.
John: Não quisemos depender de financiadores externos quando construímos a nossa escola. Vimos tantos projectos desaparecerem depois da partida dos cooperantes que preferimos procurar recursos locais. Recrutámos professores que viviam na comunidade e organizámos uma oficina para produção de ajudas para a mobilidade, de modo a termos verbas para o funcionamento da escola. Esforçámo-nos muito para convencer os pais a enviar os seus filhos deficientes para a escola.
Deepa: Muito obrigado pela vossa participação que nos encorajou muito.
“Uma das mensagens chave do EENET é que as práticas mais inovadores na E.I. vêm dos países do Sul e que estas vozes precisam de ser ouvidas”.