A Entrevista do EENET

A Entrevista do EENET

O sistema educativo da África do Sul tem passado por consideráveis mudanças desde que Nelson Mandela foi eleito Presidente, em 1994. Antes de 1994, as crianças de diferentes raças eram educadas separadamente, de acordo com um sistema chamado apartheid. Neste entrevista, o Dr. Sigamoney Naicker fala-nos sobre as mudanças relacionadas com as atitudes em relação ao ensino e à aprendizagem (pedagogia) que tiveram lugar desde então. A adopção do “Outcomes Based Education” conduz a uma maior participação dos alunos na sua educação.

Como poderia descrever a educação das crianças durante a fase do apartheid?

O problema consistia no facto dos departamentos de educação e dos institutos de formação de professores na áfrica do Sul considerarem que os professores deveriam ser os controladores das salas de aula. A maior parte dos institutos de formação de professores persistiam no ensino duma pedagogia de âmbito muito restrito. Isto conduzia a uma aprendizagem passiva. Os alunos eram levados a pensar que o conhecimento era qualquer coisa de fixo e, portanto, limitado. O professor era considerado como o único possuidor de conhecimento e o único a saber o que era bom para os alunos. Os alunos deviam adquirir o conhecimento a partir dos seus professores. As aulas eram organizadas através da “fala do professor” e dependiam de livros de texto para o estudo dos conteúdos de cada curso. Havia pouco espaço para perguntas da iniciativa dos alunos, para um pensamento independente ou para interacção entre alunos. O objectivo a atingir pelo aluno era reproduzir a explicação do professor.

No seu país foi proposta, como alternativa ao “Outcome Based Education”(OBE). Pode-nos especificar em que consiste esta nova pedagogia?

Actualmente, na áfrica do Sul, exige-se uma nova pedagogia para promover cidadãos que sejam independentes, críticos e capazes dum pensamento reflexivo. Esta pedagogia irá ajudar os alunos a atingirem o conhecimento, as competências e os valores que lhes permitam contribuir para o sucesso da família, da comunidade e da nação como um todo. Precisamos de nos assegurar que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades para aprender e, simultaneamente, que possamos visar a individualidade e responder às necessidades individuais, de modo a corresponder ao interesse dos alunos. é através de teorias de aprendizagem tais como as que estão contidas no OBE que eu acredito que isto possa ser alcançado.

Na sua essência, o OBE é uma mudança da concepção do conhecimento como algo que pode ser dado a um aluno passivo, para a noção de que os alunos activos inventam o conhecimento. Esta teoria aponta para uma responsabilização mútua dos educadores e dos educandos pelo ensino e pela aprendizagem, envolvendo ambos na construção e re-construção do conhecimento.

Desafiam-se os professores a considerar a aprendizagem duma nova forma e a implicarem-se em conceitos de ensino que irão contribuir para a mudança das práticas na sala de aula. O conhecimento não é transmitido para o aluno a partir do professor, mas antes, reconstruído através da cultura de aprendizagem da escola.

Este tipo de ensino e de aprendizagem tem sido aplicada nas escolas da áfrica do Sul?

Nos últimos anos do apartheid, alguns educadores já se tinham afastado dos métodos tradicionais. Por exemplo, em muitas escolas, o ensino da matemática é segue as orientações do OBE. Houve, além disso, importantes iniciativas no ensino da língua e na educação pré-escolar, o que constituiu alternativas à educação do apartheid.

Embora os esquemas antigos ainda permaneçam, hoje espero que estas novas ideias venham, pelo menos, iluminar algum debate vivo sobre a sala de aula e levem os professores a pensar sobre a forma de melhorarem as suas práticas.