Formação de professores e inclusão social na índia: o papel dos formadores de professores
Caroline Dyer
No contexto do seu empenhamento na descentralização da educação, a índia organizou Institutos Distritais de Educação e Formação (District Institutes of Education and Training – DIETs) com o fim de proporcionar formação em serviço para professores do ensino primário e pós-primário. Simultaneamente, surgiu uma outra oportunidade para o desenvolvimento profissional dos professores através da criação de Conjuntos de Centros de Recursos (Cluster Resource Centres – CRCs), cobrindo cada um deles escolas situadas numa área geográfica de cerca de 10 km. Os CRCs têm ajudado o ensino a mudar, passando de uma profissão isolada, com poucas oportunidades de partilha profissional, para um trabalho com oportunidades regulares de troca de ideias e de práticas, entre colegas.
O desafio fundamental destas duas novas organizações consiste na motivação dos professores das escolas governamentais a adoptarem as estratégias da “aprendizagem com prazer” e da “educação centrada na criança”, associadas ao currículo escolar agora revisto, baseado no desenvolvimento de competências. Estas perspectivas implicam que o ensino e a aprendizagem tenham como linha orientadora as necessidades de cada aluno. Isto traz numerosos desafios ao desenvolvimento profissional dos professores uma vez que:
…a actividade de ensino tem sido reduzida ao mínimo, tanto em termos de tempo como de esforço. E este modelo não caracteriza unicamente uma minoria de professores irresponsáveis – tem-se tornado um processo habitual nesta profissão. (Relatório Oficial Sobre a Educação Básica 1999, pág. 63).
é crucial que a formação de professores ressurja a partir destes desafios, uma vez que a retenção e o abandono escolar estão directamente relacionados com as escolas que funcionam sem entusiasmo e numa perspectiva centrada nos professores. Esta é uma questão importante para a inclusão social, uma vez que são as escolas oficiais que servem os grupos sociais que até agora têm sido excluídos da edução formal.
Os CRCs são dirigidos por professores talentosos que podem tentar persuadir os colegas a adoptarem novas ideias e novas perspectives. Isto pode funcionar bem com professores abertos à mudança – mas pouco pode ser conseguido com professores que não respondem a este apelo e há muitos que duvidam que estas estratégias se possam aplicar na sala de aula. Os CRCs não têm poder sobre os professores e limitam-se a sugerir ou a tentar apresentar estas novas estratégias como modelos. No entanto, em termos do “desenvolvimento de toda a escola” que é o centro duma mudança educativa de sucesso, um aspecto muito positivo consiste no facto dos professores falarem frequentemente uns com os outros sobre o trabalho desenvolvido nas reuniões do CRC, o que leva a que esteja a emergir um novo discurso profissional.
Ainda se sente a necessidade duma formação-em-serviço formal, capaz de orientar e apoiar os professores, mas este tipo de formação visa os professores individualmente, fora do seu contexto escolar. A qualidade do próprio treino não deixa igualmente de ter problemas. O DIET é orientado essencialmente por professores que estão habituados a exercer funções nas escolas secundárias e são poucos os que têm experiência de ensino no nível primário. Isto torna difícil que possam responder às exigências desta tarefa que consiste em trabalharem em escolas com os professores do ensino primário, avaliando o impacto da formação, identificando as necessidades dos professores e desenvolvendo programas capazes de lhes dar as respostas adequadas. O DIET funciona mais como um site em que se apresentam os programas delineados a nível do estado ou a nível nacional, do que como uma organização que responde, de forma criativa, às necessidades locais. Mais do que locais em que se estimule o aperfeiçoamento dos professores, eles tornaram-se conhecidos como institutos de formação. (ver foto na página de rosto).
O que pode, então, constituir uma mais valia para os formadores de professores para que desenvolvam um apoio mais eficaz para os professores nas escolas, e assim cumpram a promessa da descentralização?
- Existe uma necessidade urgente de desenvolver uma formação profissional polivalente, destinada aos membros do quadro de pessoal do DIET, capaz de os ajudar a serem mais eficazes, através do desenvolvimento de competências e conhecimentos úteis para os formadores de professores.
- Existe a necessidade de se reconsiderarem as regras de recrutamento que exigem dois graus de mestrado para o preenchimento do quadro do DIET e que, assim, impedem a maioria do professores primários de se tornarem formadores de pleno direito, uma vez que raramente possuem graus universitários.
- Existe a necessidade de promover laços mais estreitos entre o DIET e os CECs, de modo a facilitar a criação uma corrente ascendente e descendente de informação entre os professores e os formadores.
Qualquer movimento que se faça no sentido do “apoio eficaz aos professores nas escolas” necessita de ser acompanhado de uma maior atenção ao desenvolvimento das competências profissionais dos que realizam este apoio – as equipas do DIET e dos CRCs. Esta questão tem a ver com a inclusão social, pois só é possível abranger mais crianças das comunidades mais difíceis de atingir e mantê-las na escola, se professores empenhados e competentes forem apoiados por formadores empenhados e competentes e por uma politica de formação de professores adequada.
Este artigo é baseado num projecto de investigação intitulado “Institutos Distritais de Educação e Formação: um estudo comparativo em três Estados da índia, fundados pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional do R.U. e realizado em Gujarat, Rajasthan e Madhya Pradesh. Os pontos de vista aqui expressos não representam necessariamente os do grupo fundador.
Carolyne Dyer é Investigadora Sénior, do Departamento de Educação Internacional da Escola de Educação da Universidade de Manchester. Tem estado, desde há dez anos, a trabalhar na educação básica na índia.